quinta-feira, 9 de junho de 2011

Os pequenos já resolvem problemas

Eles não conhecem bem os algarismos nem sabem fazer muitas contas, mas são capazes de responder questões envolvendo números



Como distribuir 53 lápis entre os 24 colegas da classe para que todos possam desenhar? Quem ganhou o campeonato de boliche da turma? As crianças da pré-escola ainda estão aprendendo a seqüência numérica e pouco dominam a escrita dos algarismos, mas podem encontrar respostas para questões como essas – que aparecem com freqüência na sala de aula ou fora dela. Na verdade, elas são problemas matemáticos a serem solucionados.

Longe dos tradicionais enunciados envolvendo números, que surgem formalmente no Ensino Fundamental, estimular a garotada a dar uma resposta em casos como os apresentados acima faz com que os pequenos comecem a levantar hipóteses e a selecionar e interpretar dados, competência que será usada em toda a vida escolar. Com isso, eles também são estimulados a pensar com autonomia e a tomar decisões sem seguir fórmulas.

Para Virgínia Oliveira, coordenadora pedagógica do Colégio Marista, de Brasília, o papel do professor é estar atento às variadas suposições que surgem, encorajar a participação de todos e transformar as observações feitas pelas crianças em conhecimento. Usar jogos, brincadeiras e os diversos impasses do dia-a-dia para explorar tais habilidades é o mais indicado para essa faixa etária (leia quadro na página abaixo).

Várias respostas

Repartir os lápis na hora de desenhar seria mais um fato corriqueiro para a turma de 4 anos da professora do Colégio Marista, Maria Stella Machado, se ela não tivesse transformado o episódio em situação de aprendizagem. Na hora de entregar o material, ela pediu ajuda ao grupo: como fazer para que todos fiquem com quantidades iguais? Alguém poderia ter sugerido colocar os objetos no centro da mesa, ao alcance de todos, em vez de distribuir. Não seria uma saída? As questões podem contemplar diversas alternativas e todas devem ser acolhidas.

Resolver problemas na Educação Infantil...

- Estimula o raciocínio divergente, indutivo e lógico.

- Permite diferentes soluções, que devem ser analisadas coletivamente.

A decisão coletiva, porém, foi dar um objeto para cada um. Às vezes, as crianças nem contam com quantos cada um ficou, deduzindo que a divisão terminou quando não existe mais peça sem dono. Foi o que aconteceu na sala de Maria Stella.Ao perceber que alguns ficariam com mais e outros com menos, a garotada quis recomeçar o processo, dessa vez contando um por um.No fim, a surpresa: sobraram lápis, e todos tomaram contato com o conceito de resto. Há casos também em que quem divide esquece de si mesmo e percebe que ficou sem nada. A intervenção então deve ocorrer para que as crianças raciocinem sobre o que aconteceu e procurem encontrar outros caminhos possíveis.

Contas na hora de comer :

A hora do lanche costuma render impasses que podem ser repassados para as crianças. Acompanhe as sugestões dadas por Virgínia de Oliveira, do Colégio Marista, de Brasília:

-Se todos quiserem se sentar juntos na mesma mesa, lance o problema: quantas são as crianças? Qual o número de cadeiras em cada mesa? Como distribuir de modo que ninguém fique de fora?

-Nos lanches coletivos, em que a merenda é socializada com a turma, pense com eles como dividir os salgados e os doces para que todos provem um pouquinho de tudo.

-Em aulas de culinária, lance desafios: se determinada receita dá para 5 pessoas, quantas devemos fazer para que 35 comam? Como se calcula a quantidade de ingredientes nesse caso? E para fazer para apenas uma pessoa? Lembre-se sempre de pedir o registro das hipóteses e de discutir os procedimentos.

Quem ganhou?

Além das situações do cotidiano, é possível planejar os desafios. É o caso do jogo de boliche praticado por turmas de 5 anos do Colégio Salesiano Nossa Senhora Auxiliadora, em Campinas, no interior paulista. Para indicar o vencedor, é preciso raciocinar matematicamente. O que vai garantir o interesse pela atividade é o encadeamento de perguntas. Orientamos os professores a explorarem a situação em todos os aspectos, diz Márcia Teixeira, coordenadora pedagógica da escola. Ao propor jogos individuais, a garotada precisa somar e comparar resultados. Já quando são organizados grupos para disputar o campeonato, os procedimentos envolvem contas e raciocínios mais complexos. “Sem que percebam, as crianças se envolvem em cálculos mentais, operações matemáticas e outros conteúdos da disciplina.

Célia Regina Grando, professora do curso de pós-graduação em Educação da Universidade de São Francisco, em Bragança Paulista, também no interior de São Paulo, ressalta a importância do registro de procedimentos e resultados. É quando a garotada passa da manipulação concreta de objetos para a elaboração do conhecimento no nível da representação. Segundo Priscila Monteiro, consultora do projeto Matemática É D+, da Fundação Victor Civita, é essa abstração que permitirá que a criança, em futuras situações, efetue os cálculos e faça antecipações.

A turma de 5 e 6 anos de Lilian Rosária de Freitas, do Salesiano, costuma apresentar registros variados: alguns desenham bolas ou traços e há quem já use algarismos, às vezes isoladamente com o número total (por exemplo, 5) ou em seqüência (1 2 3 4 5) para chegar ao resultado. A diversidade de soluções deve ser socializada, colocando- as no quadro para que todos debatam e concluam se há uma mais adequada. Alguns vão afirmar que o uso de números é preferível ao de desenhos e outros que é impossível um só símbolo representar um monte de peças. O importante é não cair na tentação de introduzir a notação numérica, já que nessa etapa o objetivo é só fazer com que a turma entre em contato com as diversas formas de representar quantidades.

Reportagem tirada do site: http://revistaescola.abril.com.br/matematica/pratica-pedagogica/pequenos-resolvem-problemas-429868.shtml

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